Nos últimos tempos, ser filiado ou simpatizante de um
partido de esquerda no Brasil, ou simplesmente levantar qualquer pauta
relacionada à justiça social, implica em já ter ouvido centenas, talvez
milhares de vezes, um jargão criado pela extrema direita brasileira, hoje domiciliada
no Palácio do Planalto:
-“Vai para Cuba, vai para Venezuela!”
Sim, o objetivo é, literalmente, desacreditar toda e
qualquer luta por uma sociedade mais justa, igualitária, seja ela econômica,
racial, sexual ou de gênero.
E também, sim, Cuba não é um exemplo de um socialismo
democrático desde que adotou o comunismo soviético, logo após os barbudos de
Fidel Castro derrubarem Fulgêncio Batista, um sanguinário ditador apoiado por
Washington.
Mas também não havia muitas opções da revolução cubana
sobreviver as constantes e cada vez mais fortes investidas armadas
norte-americanas a ilha caribenha sem o apoio do Kremlin. Tanto que um dos
ministros mais expoentes de Fidel, Che Guevara, que era contra a adoção do
modelo autoritário russo, percebeu rapidamente a situação, pediu demissão e foi
fazer a guerrilha libertária nas florestas do Gongo e, depois, no altiplano
andino da Bolívia.
Morreu tentando.
E até hoje, 60 anos depois, Cuba vive sob um trágico
bloqueio comercial do grande irmão do Norte, sofrendo com a falta de produtos e
serviços e, sem dúvida alguma, nenhuma possibilidade de desenvolvimento
econômico.
Já a Venezuela, que mesmo se autoproclamando “socialista”
(assim mesmo, entre aspas, já que sem liberdade não há o verdadeiro
socialismo), é o país mais semelhante com o governado e pretendido por Jair
Bolsonaro desde que começou sua triste trajetória na cadeira presidencial, em Brasília:
autoritarismo exagerado do presidente, sustentação política dada pelo grande
número de militares no Poder, benesses de todo tipo aos legisladores que apoiam
o regime, milícias armadas fazendo o trabalho sujo contra opositores do regime,
desqualificação da oposição pela prisão e contínuos fake news, além de inflação
galopante, falta de trabalho, miséria absoluta e fome, muita fome!
Neste sentido, da próxima vez que levantares a bandeira da
justiça social e um direitista radical vier a bradar seu jargão, educadamente
lhe pergunte se conheces Portugal.
Sim, esse mesmo Portugal dos grandes navegadores, de Cabral,
Camões e Fernando Pessoa. Um Portugal que é um dos destinos turísticos mais
procurados do mundo, com suas cidades e zonas costeiras repletas de turistas,
atraídos pela história e cultura de um país milenar, pelo bom tempo, segurança,
pela excelente gastronomia e pelos preços mais acessíveis do que os de outros
destinos europeus.
E também, principalmente, por um Portugal que se tornou
exemplo de desenvolvimento econômico ao superar com sucesso a crise econômica
mundial de 2008, assim com a crise econômica causada pela pandemia de
coronavírus de 2020.
“Portugal é um país que conseguiu, nos últimos anos,
combinar coesão social com crescimento econômico, com um modelo de crescimento
para as pequenas economias europeias, que tiveram dificuldade em equilibrar
suas tradições culturais e valores políticos com as demandas de economias
maiores, como Alemanha, França e Itália, com as quais compartilham (a moeda) o euro",
ressaltou, Michel Moran, um prestigiado autor norte-americano em recente artigo
da revista Foreign Policy.
Mas nem sempre foi assim. Em 2008, Portugal mergulhou numa
grave crise econômica que o deixou à beira da falência. O governo português, então de centro-direita,
praticamente implorou por um pacote de resgate no valor de 78 bilhões de euros
à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O desembolso foi
autorizado, sob a condição de que o país implantasse fortes e amargas medidas
de austeridade.
Foram os anos da "troika", como são popularmente
conhecidas às imposições da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu (BCE) e
do FMI.
E assim foi feito: corte significativo das despesas
públicas, salários de funcionários públicos e aposentados defasados, impostos
em alta, desemprego e impostos crescentes. O consumo e a moral dos portugueses
despencaram em uma ciranda trágica, típica dos fados, um gênero musical
português que canta amores perdidos e desilusões amorosas.
Os socialistas Antonio Costa e Mario Centeno: mentores do renascimento pós troika
O ponto de ruptura com a crise, a troika e a desilusão
nacional foram as eleições de 2015, quando foi formado um novo governo de
centro-esquerda liderado pelo socialista António Costa, até hoje no cargo.
Costa, e seu aclamado ministro da Fazenda, Mário Centeno, começaram a reverter
as medidas de austeridade imposta pelo FMI e o Banco Central Europeu, mas sem
descuidar, “um minuto” da responsabilidade fiscal.
O governo socialista português começou a gastar um pouco
mais, como no aumento de salários, e isso teve um efeito multiplicador na
economia e na arrecadação. E a
recuperação foi mais ainda perceptível em 2017, quando o PIB português cresceu
2,7%, a taxa mais elevada do país desde o início do novo milênio enquanto a
taxa de desemprego caiu para níveis pré-crise.
Centeno, o ministro socialista, foi apontado como o
"Ronaldo das finanças", em alusão ao atacante português Cristiano
Ronaldo, pelo surpreendente desempenho da economia que, desde então, ficou
conhecida como o "milagre da economia portuguesa".
Mas nem tudo é tempo bom na economia portuguesa. Como todo o
mundo, ela foi duramente atingida pela
pandemia do coronavírus e o PIB despencou 8,4% em 2020, a pior recessão desde
1936, e os visitantes estrangeiros caíram 76%.
No entanto, segundo especialistas, as medidas promovidas
durante os anos anteriores à pandemia permitiram a Portugal resistir melhor à
crise, e o país é um dos que apresentam melhor desempenho na recuperação.
No segundo trimestre de 2021, o país liderou a retomada da
zona euro e registrou a maior taxa de crescimento (4,9%) entre os
Estados-membros da União Europeia, mais do que Alemanha (1,5%), Espanha (2,8%)
ou Itália (2,7).
Agora, novamente aberto ao turismo e com um cenário
praticamente normal, o Banco Central de Portugal espera que o país encerre o
ano com um crescimento de 4,8%, enquanto a taxa de desemprego se situa em 6,7%,
muito abaixo das nações vizinhas e também dependentes de turismo como Espanha
(15%) e Itália (10%).
Portugal é um dos destinos turístico mais procurados do mundo na atualidade
Afinal, Portugal é realmente um exemplo para outras
economias?
Claro que nem tudo é perfeito para Portugal, e a economia
portuguesa ainda tem grandes desafios. Os salários ainda são muito pequenos em
relação aos líderes europeus, como Alemanha, França, Inglaterra e Itália, e o
preço das moradias simplesmente entrou na estratosfera, mas, pouco a pouco, com
inteligência administrativa, como fazer frente as exportações chinesas com
produtos de qualidade e incentivo a compra de moradias nos rincões mais escondidos
do país, como nos Açores e Ilha da Madeira, além da liberação de recursos
significativos para incentivo a economia criativa.
E, sim, Portugal com um governo socialista, apresentando um mix
hábil de medidas políticas- fiscais e promovendo a justiça social faz sua gente
levar uma vida boa e ainda fazer a economia crescer “a olhos vistos”. E muito!
Tanto que os endinheirados de todo mundo estão investindo em
Portugal, transferindo seu endereço fiscal para terra de Camões. E os
milionários brasileiros aderiram em massa a essa tendência. Apenas neste ano de
2021, centenas de clientes “private wealth management” dos mais diversos bancos
nacionais transferiram seu novo endereço tributário para Lisboa ou Porto. E “private
wealth management” é o serviço bancário destinado a indivíduos de alta renda e
grande potencial de investimentos. O termo, em tradução livre, é gestão de
riqueza.
Quer mais? Milhares de aposentados brasileiros estão se
transferindo cada vez mais “e de mala e
cuia" para a terra natal do grupo musical Madredeus através de um acordo
binacional que já tem vários anos, mas só agora atinge índices expressivos. Todos
atrás de segurança física, patrimonial e econômica. E, fazendo uma comparação
com o "Brasil Terra Arrasada" de Jair Bolsonaro, uma constante: “Não volto mais!”
Enfim, muitos desses que gritam o famoso jargão direitista
de vai para Cuba ou Venezuela, são os mesmo que, sem saber, investem em um país
de doutrina esquerdista, já que socialismo democrático é liberdade, democracia,
ciência, cultura e, sim, desenvolvimento econômico. Então, vai para Portugal,
ora pois!
*Com fontes e dados da
BBC Internacional (ING), El País (Espanha), Foreign Policy Magazine (EUA) e
Jornal do Comércio (POA).
Lisboa mantém seu patrimônio histórico cultural, mas também cresce "a olhos vistos".
Fonte: Assessoria de Comunicação do PSB-RS