Bolsonaro está à beira de um ataque de nervos e em observação médica

14/07/2021 (Atualizado em 14/07/2021 | 15:21)

Foto: Gabriela Bilo
Foto: Gabriela Bilo

Há 11 dias com soluço, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi internado nesta quarta-feira (14) e submetido a uma série de exames pela manhã no Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília. A assessoria de imprensa do Planalto divulgou, por volta das 8h40, uma nota oficial confirmando que o presidente, por orientação de sua equipe médica, deu entrada no HFA, para a realização de exames para investigar a causa dos soluços.

Por orientação médica, o presidente ficará sob observação, no período de 24 a 48 horas, não necessariamente no hospital. Ele está animado e passa bem.
Nota assinada pela Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom)

Agora à tarde, o ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, informou, por meio das redes sociais, que Bolsonaro “está bem” e vai ficar “apenas em observação” após realizar alguns exames. “Graças a Deus, nosso Presidente está bem”, escreveu Ramos no Twitter. “Agradeço o carinho dos brasileiros e me junto a eles nas frequentes orações por @jairbolsonaro”, completou. O ministro ainda desejou “força” ao presidente e disse que o Brasil “precisa e muito da sua coragem e liderança.”

A agenda do presidente, hoje, previa uma reunião entre os três Poderes —Executivo, Legislativo e Judiciário—, que tinha como objetivo estabelecer diretrizes que garantam os princípios e a estabilidade da democracia. Nas últimas semanas, Bolsonaro tem atacado o Judiciário, questionado o sistema eleitoral, e também criticado a CPI da Pandemia.

Antes mesmo da nota do Planalto sobre a ida de Bolsonaro ao hospital, a assessoria do Supremo Tribunal Federal (STF) já havia informado, sem explicar o motivo, que a reunião havia sido “cancelada”. “O encontro será oportunamente reagendado”. A assessoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse também que “todas as agendas foram canceladas”.

Bolsonaro pode se submeter a cirurgia

Segundo fontes, ainda não está definido se o presidente deve se submeter agora a cirurgia para correção de uma hérnia que se formou no abdome. Bolsonaro vinha adiando o que seria a 7ª cirurgia desde a facada em 2018.

Em abril deste ano, durante conversa com apoiadores, o presidente já havia afirmado que teria que fazer esse procedimento em algum momento.

“Talvez, neste ano, mais umazinha [cirurgia]. Mas é tranquilo, de hérnia. Eu tenho uma tela aqui na frente. Está saindo o bucho pelo lado. Então, tenho que colocar uma tela do lado também”.
Jair Bolsonaro

Auxiliares de Bolsonaro afirmam que a avaliação médica para decidir se o presidente será novamente submetido a uma cirurgia deve ficar sob a responsabilidade do Doutor Ricardo Peixoto Camarinha, médico que já operou o presidente.

Ex-aliado avalia que Bolsonaro pode ser preso

Além da saúde abalada, Bolsonaro está sob forte estresse. Além das pressões a que todos os chefes de governo no mundo estão submetidos durante a pandemia, por conta das crises sanitária, econômica e humanitária, há também as crises que o presidente cria para si mesmo ao transformar seu governo em plataforma pré-eleitoral a mais de um ano das eleições e atacar outras instituições.

Hospedeiro por um ano do QG da campanha de Bolsonaro à Presidência, entre 2017 e 2018, o empresário Paulo Marinho (PSDB) afirma que o presidente está à beira de um ataque de nervos diante dos desdobramentos da CPI da Pandemia no Senado.

Ao comentar o tom adotado por Bolsonaro diante das suspeitas de irregularidades nas compras de vacinas, Marinho diz que o presidente mostra destempero por ter consciência do risco de derrota na corrida presidencial de 2022.

“Conheço a peça. O capitão Bolsonaro está à beira de um ataque de nervos.”
Paulo Marinho

Presidente demonstra insegurança

Diante desse quadro de estresse, Bolsonaro tem dado demonstrações claras de estar passando por um dos piores momentos do seu governo. Basta observar suas ações nas circunstâncias em que costuma se sentir muito à vontade. Dá a impressão de ser um principiante que não sabe bem como agir.

Fala esfregando as mãos nervosamente, trunca frases, não encontra palavras, gagueja, foge com os olhos. É a indicação clara de que o corpo está presente, mas o “espírito” vaga por outras dimensões. Na última live, por exemplo, precisou contar com a ajuda do ministro Marcos Pontes para concluir a frase. Sua voz está fraca e ofegante. Ele não via a hora de encerrar.

Outro exemplo que demonstra a sua instabilidade emocional, foi no pronunciamento que fez na 58ª Cúpula do Mercosul, na última quinta-feira, dia 8. Falou sem vida, sem energia, sem nenhuma emoção. Parecia que se apresentava ali por obrigação. Tanto que em determinado momento, em vez de dizer “durante a presidência brasileira do Mercosul”, disse “durante a pandemia brasileira do Mercosul”.

Coca-cola no café da manhã

Amigos de longa data de Bolsonaro não se lembram de ver o ex-capitão com crises de soluço, mas contam que ele sempre teve acessos de “tosses horríveis” que atribuía a um “refluxo no estômago”. Nessas ocasiões, relatam amigos, o ex-capitão costumava recorrer a comprimidos de Omeprazol, indicado para controle da acidez gástrica, e latas de Coca-cola, na versão não diet. Bolsonaro costuma tomar o refrigerante inclusive no café da manhã.

O refluxo gastroesofágico é o retorno do ácido estomacal para o esôfago. O processo pode causar soluço, além de sensação de queimação na garganta e no peito, azia e tosse seca, principalmente depois das refeições.

“Ele sempre comeu muito mal”, afirma um político que conviveu com o presidente. “Às vezes, tinha uma tosse muito feia, que era como se engasgasse”.

Na última sexta-feira, sentindo-se mal, abandonou um jantar com empresários em um restaurante de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. Na última live, transmitida quinta-feira, os espasmos interromperam diversas vezes a sua fala. Em março de 2020, o presidente teve um acesso de tosse em meio a uma entrevista ao apresentador José Datena, que lhe perguntou se estava com covid-19. Bolsonaro negou e atribuiu a tosse ao seu “problema de refluxo”.

Falta de transparência quanto à saúde

O Chefe do Executivo não é transparente em relação ao seu real estado de saúde. No ano passado, Bolsonaro travou uma disputa jurídica para não mostrar o resultado dos testes que realizou sobre covid-19. Alegando defesa de sua “intimidade, vida privada, honra e imagem”, o presidente da República quis que a população acreditasse apenas em sua palavra quando dizia que não havia contraído até aquele momento o coronavírus. A beleza da democracia, contudo, é que nós temos o direito de saber e, ele, o dever de informar. Acabou sendo obrigado pela Justiça a revelar os testes.

Transparência não é concessão que governantes fazem a cidadãos, mas uma obrigação. A condição de saúde de um presidente não é uma questão de foro íntimo, mas de interesse público, pois situações que os incapacitam permanente ou momentaneamente causam impactos na vida das pessoas.

Infelizmente, Bolsonaro não adota essa prática, chegando a ir a hospitais sem colocar na agenda e sem explicar direito o que foi fazer lá, como aconteceu em 30 de janeiro de 2020. Naquele dia, passou algumas horas no HFA e o governo apenas se pronunciou após cobrança da imprensa.

As consequências da abominável facada que ele levou, no dia 6 de setembro de 2018, deixaram sequelas que deverão que ser acompanhadas por um longo tempo, então é natural idas regulares ao hospital. E Bolsonaro não é uma pessoa jovem, então é natural que tenha mais questões de saúde a resolver.

Com informações do Uol e Folha de S. Paulo

Fonte: por: Mariane Del Rei / Socialismo Criativo