Diza Gonzaga
nasceu em Santiago, mas construiu sua vida em Porto Alegre. Formada
em Arquitetura, atua na área do trânsito desde 1996, quando
transformou a dor da perda do filho em luta por uma causa. A ONG
Fundação Thiago Gonzaga, morto em um acidente de trânsito em 1995,
foi a primeira a discutir a humanização do tráfego no Brasil. O
objetivo é conscientizar a sociedade e salvar vidas.
Em 2018,
ela concorreu a deputada federal pelo PSB e obteve 51.623 votos,
tornando-se segunda suplente. Foi nomeada para o cargo de diretora
institucional do Detran-RS em março de 2019. Com menos de dois meses
na função, ela conversou com a reportagem do PSB sobre o novo
desafio.
PSB - Como está sendo a experiência no
cargo?
Diza - Para mim, o grande desafio de estar aqui no
Detran é sair do terceiro setor para um órgão público. Fazer
parte do sistema. Vou continuar fazendo o que eu sempre fiz, que é
salvar vidas. Esta é a minha intenção. Acho que o convite do
governador Eduardo Leite para fazermos parte desta gestão é para
trazer o Detran nossa expertise de mais de 20 anos à frente da
Fundação Thiago Gonzaga. Licenciada da presidência, trago aquilo
que sei fazer, que é educar.
PSB - A educação é a
base do seu trabalho?
Diza - Acho que o grande foco é a
educação. Embora na minha diretoria tenhamos outras divisões, como
fiscalização, balada segura, infrações e cassação. Mas a menina
dos olhos desta diretoria e grande motivo para eu aceitar este
desafio é a educação. Não é uma campanha pontual na véspera de
um feriado ou na semana do trânsito. É um processo permanente. É
isto que eu me proponho a fazer no Detran. É permear em todo
departamento, e não só na diretoria que eu estou. O Detran existe
para formar condutores. O resto é decorrência desta formação. A
vocação de um departamento de trânsito é a formação de
motoristas e cidadãos conscientes. A punição só vem se a gente
falhar na educação. Nossa expectativa é reduzir o trabalho das
divisões de infração e cassação em decorrência do trabalho da
divisão de educação. Não estamos só treinando pessoas para serem
motoristas, estamos formando cidadãos que serão conscientes na
direção de um veículo.
PSB - E como está a
estrutura para desenvolver estas ações?
Diza - É uma
oportunidade ímpar pra mim. Encontrei aqui uma equipe com muita
gente preparada, com capacidade para desenvolver o trabalho nestes
quatro anos. Queremos fazer 20 ou 10 anos em quatro. Pode parecer
brincadeira, mas a gente tem esta pretensão. Mas se conseguir deixar
plantada esta semente, já vai valer. Porque estamos falando em
vidas, e a vida não pode esperar. Estou imprimindo meu ritmo e
conseguindo motivar a equipe. O diretor-geral também está sendo
muito receptivo, assim como os outros diretores, todos com boa
relação entre si e com o governo do Estado.
PSB -
Ainda existe muito preconceito com a mulher no trânsito?
Diza -
O trânsito realmente ainda é uma coisa muito masculina.
Culturalmente, são poucas mulheres que militam nesta área. Em
congressos sobre o tema, vemos uma mesa lotada de homens. Agentes de
trânsito, PRF e BM são masculinos. Nas estradas, poucas mulheres
são caminhoneiras, o trânsito como um todo é masculino. E não é
diferente na gestão do trânsito. São poucas mulheres que estão
nesta luta. Mas pelo meu perfil, não chego a sentir um preconceito
direto. Mas sabemos que ele existe, e muito. Qualquer barbeiragem é
atribuída às mulheres. Só que as seguradoras dão descontos
consideráveis a carros de mulheres, pois 91% dos acidentes com morte
ou lesões têm um homem na direção. As barbeiras estão em apenas
9% dos acidentes. Que continuemos sendo barbeiras então.
PSB
- Há alguma forma de mudar esta cultura com relação às
mulheres?
Diza - Fizemos um levantamento junto aos CFCs e
fiquei pasma ao saber um dado: 80% das mulheres são reprovadas na
prova prática de direção. Na teórica, temos 90% de aprovação. A
explicação para isso é muito vaga. As mulheres são mais ansiosas,
ficam mais nervosas, mais medrosas. Eu não me conformo com isso. Eu
tenho uma teoria que as mulheres, por terem na sua biologia, no seu
gene, a preservação da vida, independentemente de quererem ter
filho, têm o apego à vida mais forte que os homens. Talvez por isso
a mulher não se arrisque tanto e não se envolva em acidentes. É
muito difícil ver mulher fazendo pegas. O olhar das mulheres
humaniza o trânsito. O trânsito é a principal causa de mortes de
jovens no mundo. Vamos nos debruçar sobre isso. Alguma coisa temos
de fazer. Como gestores, temos que achar uma maneira da formação
suprir isso.
PSB - E como o olhar feminino de
alguém que vem do terceiro setor pode contribuir para melhoria neste
quadro?
Diza - Precisamos rever a forma como o Departamento
se comunica com a população. É um processo. Não de apenas um
setor, mas de todos. Isso precisa passar por todos seus atendimentos.
Por exemplo, vamos avisar com antecedência para os motoristas
profissionais antes de atingirem o limite de pontos na carteira,
sugerindo a reciclagem para não correrem o risco de perder a
habilitação. Um comunicado de forma gentil, humana, não só a
letra fria da lei. Isto vai ter um impacto social também porque
vamos evitar que muitos percam seu ganha-pão. Da mesma forma,
contribuímos em ações de segurança pública com o Balada Segura.
São atividades integradas.
PSB - E como militante do
PSB?
Diza - Se a Diza está aqui é pelo trabalho de mais de
20 anos na Fundação Thiago Gonzaga, mas também por eu ter
concorrido nas eleições, por ter legitimado um trabalho com 51.623
votos. Isto deu oportunidade do governador me levar pra dentro do
governo. O PSB pode colocar uma pessoa que entende da coisa, que vai
humanizar. Não é um cargo, é uma missão que o PSB está me dando
oportunidade de cumprir aqui dentro.
Fonte: Luciane Ferreira Foto: Eduardo Manica/Detran-RS