O esforço deve ser feito para ganhar no primeiro turno”, afirma Siqueira em entrevista à Folha de São Paulo

01/08/2022 (Atualizado em 01/08/2022 | 12:10)

Foto: Divulgação
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Lula deve adaptar plano de governo para ganhar já no 1º turno, diz presidente do PSB.

Carlos Siqueira, dirigente de partido de Alckmin, defende diálogo com empresários e rejeita rótulo de ‘sublegenda’.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, defende que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) use a apresentação de propostas e programa de governo para ampliar o eleitorado e buscar o apoio de empresários e setores fora do campo da esquerda.

“Penso que [a estratégia] devia ser nesse sentido, da coesão social, de programas econômicos e sociais e políticos que precisam ser comuns às diferentes forças políticas, principalmente às diferentes das nossas”, afirmou Siqueira em entrevista à Folha.

Pesquisa do Datafolha divulgada nesta quinta-feira (28) mostrou que o ex-presidente tem 47% das intenções de voto, o mesmo patamar anterior, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) oscilou positivamente um ponto, com 29%.

Siqueira declarou que a campanha precisa se dedicar a uma vitória já no primeiro turno da eleição presidencial.

“Isso deve ser o esforço de todos nós. Não subestimar o adversário porque a campanha sequer começou e porque ele tem sido surpreendente nos últimos tempos”, afirmou, se referindo a medidas para driblar a legislação eleitoral.

Diz ainda que o partido não é “sublegenda” e que espera dar contribuição “programática” a um eventual governo Lula, que terá Alckmin como vice.

O PSB e o PT fecharam uma aliança na chapa Lula-Alckmin. A convenção do PSB será nesta sexta, mas ainda há conflitos em uma série de estados. Ainda tem como resolver essas questões? A aliança que será consagrada nesta sexta-feira na convenção do PSB no plano nacional é uma aliança histórica. Estamos vivendo um período de ameaça real à democracia brasileira. Bolsonaro já é resultado do que a classe política fez com a democracia brasileira gradativamente.

Como o sr. enxerga o centrão e como eventual governo Lula-Alckmin deve se relacionar com ele? Nós precisamos ter uma campanha que diga o que vai fazer, e que pedagogicamente esclareça o eleitorado, para que o presidente da República tenha capital político suficiente para cobrar do Congresso essas mudanças.

Mas o centrão tem muita força no Congresso. Mas o centrão nunca deixou de aprovar nenhum projeto, por exemplo, no governo Lula.

O Congresso tem ficado mais independente e controlado mais o Orçamento. Como lidar com esse novo cenário? A execução do Orçamento é uma tarefa exclusiva do Poder Executivo. Essa anomalia do orçamento secreto [emendas de relator] precisa ser combatida.

O sr. vê abertura no Congresso para rediscutir isso? Acho que a questão é o candidato a presidente da República denunciar isso e se comprometer a não permitir isso. Ele pode vetar essa parte do Orçamento. Os ministros não podem estar à disposição do Parlamento.

E se o Congresso derrubar esse veto? Significa que o Executivo não tem força política. Não se pode aceitar isso como uma coisa natural.

Qual deve ser o papel do PSB num eventual governo Lula? E o papel do próprio Geraldo Alckmin? O papel do PSB deve ser apoiar o governo, mas não pode ser uma contribuição apenas eleitoral. Deve ser uma contribuição político-eleitoral, e sobretudo uma contribuição programática, dando a nossa visão, obviamente, não queremos impor nada, e nem podemos e nem nosso desejo.

Como ficam as alianças estaduais com o PT que hoje ainda estão com impasses? A aliança no plano nacional não exime de ter alianças diferentes no plano estadual. Nós não somos uma sublegenda nem estamos submetidos a qualquer interferência. A nossa aliança nacional é incondicional, inabalável, mas não exclui projetos estaduais. Estamos apoiando o PT em vários estados, como Santa Catarina, São Paulo, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte e Piauí.

Mas como ficam as desavenças em outros estados? Eu chamo de diferenças. Não estamos brigando com o PT. Estamos disputando. O ex-governador do Ceará [Camilo Santana] veio aqui e pediu uma aliança com o PT no Ceará. O próprio [ex-]presidente Lula me pediu isso. Eu até gostaria, mas não é possível porque ficamos com o PDT, que o PT cogitou apoiar também. É importante ressaltar o que o PSB fez em São Paulo, abriu mão de uma candidatura competitiva do Márcio França [que vai concorrer ao Senado] pela candidatura do Haddad.

Por que o PSB abriu mão do Márcio França? Consideramos que São Paulo é tão importante para a eleição nacional que vale o sacrifício. Ganhar em São Paulo significa uma vitória ainda maior do [ex-]presidente Lula. E, portanto, aumenta a chance de ele ganhar em primeiro turno.

Como deve ficar a aliança no Rio de Janeiro? Uma ala do PT quer deixar de apoiar a candidatura de Marcelo Freixo ao governo do estado por causa da decisão de lançar Alessandro Molon ao Senado. A decisão foi do PSB do Rio de Janeiro. Nós estamos conversando aí internamente. Ainda não se tem uma definição sobre isso.

Qual a prioridade do sr. entre lançar Freixo ou Molon? O Freixo é um candidato importante para nós. Nós tínhamos 12 pré-candidatos [a governos estaduais] e nós reduzimos a cinco candidatos. Consideramos todas importantíssimas, inclusive Freixo. Ele e o Molon têm seus problemas regionais lá no Rio que eu espero que possam ser harmonizados.

Como o sr. avalia a insistência do PT em lançar candidatos que até agora não se mostraram competitivos? Eu acho surpreendente, porque o partido que tem a disputa presidencial deveria ter um pouco mais de generosidade e abrir mão de algumas disputas. Mas o PT é um partido autônomo como nós e vamos respeitar as decisões deles, assim como as nossas precisam também ser respeitadas.

No Rio, o sr. defende que o PT apoie o Freixo e o Molon? Eu sempre pedi para a direção nacional do PT apreciar essa possibilidade. O PT recentemente disse que não faria isso. E aí ficou esse quadro. Mas o PT fez uma concessão em Minas [abriu mão de um candidato próprio para apoiar um do PSD]. Eu achei que o PT pudesse fazer essa mesma concessão no Rio de Janeiro, com o Molon. No Rio, o quadro deles [Ceciliano] precisa dizer que apoia o Freixo para se acreditar que ele vai fazer a campanha para o Freixo. Estamos nesse sufoco para ver onde vamos chegar.

E se o PT decidir não apoiar o Freixo? Eu não acredito nessa hipótese.

Como o sr avalia o cenário de lançar duas candidaturas, a do PT e do PSB? Não é o ideal.

Qual a sua expectativa para o embate com o Bolsonaro daqui em diante? Eu não sei se ele vai crescer [na intenção de votos], mas nós devemos trabalhar uma perspectiva de que a eleição precisa ser ganha, de preferência, no primeiro turno. Isso deve ser o esforço de todos nós. Não subestimar o adversário porque a campanha sequer começou e porque ele tem sido surpreendente nos últimos tempos. Há uma série de medidas excepcionais fora da Constituição e aprovadas em ano eleitoral.

O ex-presidente Lula não tem conseguido subir muito nas pesquisas. Ele atingiu o teto? Como alavancar? O que pode melhorar a posição do [ex-]presidente nas pesquisas será o seu discurso, propositivo inovador, e capaz de empolgar uma parcela ainda mais significativa do eleitorado brasileiro. Acredito que ele vai fazer isso a partir do início da campanha com a formulação do seu programa de governo e penso que devia ser nesse sentido, da coesão social, de programas econômicos e sociais e políticos que precisam ser comuns às diferentes forças políticas. Principalmente às diferentes das nossas.

Alckmin vai viajar por São Paulo? Vai. Lula precisa crescer lá.

O sr. acha que o programa de governo tem que levantar a bandeira contra as armas? A bandeira do desarmamento é fundamental. O armamento da população nunca resolveu violência no lugar do mundo.

Mas isso não pode afastar o eleitor de centro? O [eleitor] de centro é uma coisa. Mas o eleitor que defende o armamento é do Bolsonaro. Esse eleitorado é perdido. Há hoje um setor organizado militante contra democracia. Não vamos ganhar esse setor, pois é ele que temos que derrotar.

O senhor acredita em novas alianças políticas até o primeiro turno? Não. Acho que a ampliação se dá em setores de alguns partidos. Mas a principal ampliação deve se dar em função do programa e em função da conquista de setores econômicos e sociais.

O sr. avalia ser importante ganhar no primeiro turno para evitar uma tentativa de ruptura democráticaAcho que sim. O esforço deve ser feito para ganhar no primeiro turno, mas isso foge ao nosso controle, está na mão do eleitor e não na mão dos partidos.

Mas o que o sr. acha que o Bolsonaro seria capaz de tentar uma ruptura política se ele perder a eleição? Nós temos assistido mundo afora ao surgimento de lideranças autoritárias que são eleitas, mas que não são eleitas no regime propriamente democrático. É o caso da Turquia, da Rússia e de outros países. Então nós não podemos subestimar a importância de ganharmos no primeiro turno.

RAIO X

Carlos Roberto Siqueira de Barros, 67
​Advogado e presidente do PSB, foi homem de confiança do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes. Foi presidente da Fundação João Mangabeira de 2007 a 2014 e coordenou a campanha presidencial de Eduardo Campos em 2014. Assumiu a direção do partido após a morte de Campos

Fonte: PSB nacional - * Entrevista publicada no site da Folha de São Paulo no dia 29 de julho de 2022