Após Covid-19, Brasil vive “epidemia” de depressão e suicídio

18/07/2022 (Atualizado em 18/07/2022 | 16:50)

Foto: Reprodução
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Um dado preocupante “acende” alertas no Brasil. De acordo com o DataSus, o total de óbitos autoprovocados no país dobrou de cerca de 7 mil para 14 mil nos últimos 20 anos, sem considerar a subnotificação. Isso equivale a mais de um óbito por hora, superando as mortes em acidentes de moto ou por HIV.

Os números mostram que o Brasil vai na contramão do resto do mundo, mas segue a tendência da América Latina, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), que atribui esse resultado à pobreza, à desigualdade, à exposição a situações de violência e ausência ou à ineficiência de planos de prevenção.

Rio Grande do Sul ocupa o topo do triste ranking brasileiro. Entretanto, até entidades de saúde e preservação a vida tentam entender os motivos. As hipóteses passam pela cultura herdada da colonização alemã. “No Sul, saúde mental é vista como besteira, como se a pessoa não quisesse trabalhar”, diz a coordenadora do Comitê Estadual de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio, Andréia Volkmer.

Um levantamento da OMS em 2017 apontou o Brasil como o país com o maior índice de ansiosos do mundo (9,3% ou 18 milhões de pessoas) e o terceiro maior em depressivos (5,8% ou 11 milhões), muito próximo dos EUA e da Austrália (5,9%) — a entidade pondera que não se pode falar em ranking, porque são estimativas.

Hoje, porém, esses números já estão longe da realidade. Os efeitos do luto, do medo e do isolamento pela pandemia de Covid-19 foram explosivos nos últimos dois anos.

A última pesquisa mais abrangente, da Vital Strategies e da Universidade Federal de Pelotas, mostrou que os que dizem ter sido diagnosticados com depressão subiram de 9,6% antes da pandemia para 13,5% em 2022. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) cita que um quarto da população tem, teve ou terá depressão ao longo da vida.

Policiais e pessoas LGBTQIA+

Outros grupos que acendem alertas são policiais e pessoas LGBTQIA+. As chances de um jovem desse segundo grupo ter um transtorno mental é três vezes maior para ansiedade, duas vezes para depressão e cinco vezes para estresse pós-traumático, mostrou um estudo feito em escolas de São Paulo e Porto Alegre em 2019.

Já entre policiais da ativa, a taxa de suicídio das diferentes corporações no Brasil apresentou aumento de 55,4% em 2021, com 121 ocorrências, segundo o 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado no fim de junho. O número é quase oito vezes maior do que o aumento verificado entre a população em geral, de 7,4%.

Entre os estados com a realidade mais crítica está o Rio de Janeiro. Nos últimos três anos, há um acumulado de 83% em morte autoprovocadas de policiais no estado — foram seis casos registrados em 2019, nove registros em 2020 e 15 em 2021

Os adolescentes e jovens-adultos em geral são, agora, a maior preocupação no país e no mundo, com índices de mortes autoprovocadas disparando acima da média.

Suicídio é questão de saúde e previnível

As organizações de prevenção à vida batem na tecla de que o suicídio é uma questão de saúde e prevenível, recomendando quatro diretrizes principais aos países: dificultar o acesso aos principais métodos utilizados; qualificar o trabalho da mídia para que neutralize relatos e enfatize histórias de superação; expandir e fortalecer os serviços de saúde mental, capacitando profissionais para identificar casos precoces; trabalhar habilidades socioemocionais nos espaços de ensino.

Onde procurar ajuda?

Mapa Saúde Mental
Site mapeia diversos tipos de atendimento: www.mapasaudemental.com.br

CVV (Centro de Valorização da Vida)
Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188: www.cvv.org.br.


Fonte: Socialismo Criativo