Artigo: Contribuição sobre a questão das federações dos partidos, por Adriano Sandri

10/01/2022 (Atualizado em 10/01/2022 | 11:28)

Foto: Reprodução
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O assunto ‘Federação’ de partidos volta ao centro dos debates. De dentro do PSB, vejo a necessidade de aprofundá-lo. Vejo a necessidade que a questão consiga se colocar num nível superior ao eleitoral. Com a aprovação da federação no nível eleitoral e sua precária legislação, abriu-se a possibilidade de realizar federações de partidos. Uma possibilidade de unificar as esquerdas. É uma operação muito perigosa, pois se aproxima de uma manobra de cunho fascista. A defesa da ‘unicidade’ é uma bandeira muitas vezes levantada pelo PCdoB, no meio sindical, por exemplo. Unicidade não combina com democracia, e sim com fascismo. Para o PSB a democracia é um pilar inegociável. Na esquerda brasileira existem diferenças importantes, que representam valores muitas vezes contraditórios, que precisam de amadurecimentos e evoluções.

O PT é esquerda, mesmo que atualmente sem presunção de ser socialista. É de cunho trabalhista socialdemocrata. Ao redor do PT é possível formar uma federação com partidos que se juntem ao ‘modus vivendi’ do PT, onde seu Regimento Interno conseguiu, ao longo de sua história, manter uma unidade – longe de unicidade – de tendências organizadas e expulsar organizações que não se adaptavam ao tipo de organização elaborado internamente. Pode-se, sem exagerar, afirmar que o PT foi e é um tipo de ‘federação’ bem sucedido, que resultou num partido sólido e historicamente estratégico na história política do Brasil.

No espectro da esquerda brasileira pode-se afirmar que existem partidos de cunho-inspiração socialista. Neste espaço existem socialismos radicalmente democráticos e socialismos mais ‘rígidos’, para utilizar um termo que não ofenda nenhuma agremiação partidária. É neste espaço que poderia e deveria se tentar construir, hoje e dentro da legislação atual, uma federação. Seria uma federação que, desde sua fundação, supera as motivações conjunturais e os horizontes eleitorais imediatos, para dar início a uma política sólida e permanente de unidade – não unicidade – dos socialistas no Brasil.

Contemplando assim a nova organização partidária, com duas federações de esquerda, a esquerda brasileira chegaria a ser mais autêntica e estruturada, superando o divisionismo que a caracterizou antes, durante e depois da ditadura militar do século passado.

Enfrentar o caos político em que a nação se encontra com a hegemonia institucional da direita, que aí está na direção do Executivo nacional, graças também aos erros da esquerda, e construir uma perspectiva sólida e realizável de organização política socialista, pode ser o desafio que temos que resolver hoje, imediatamente, pois o tempo a disposição é muito restrito e a oportunidade única. Retomando a proposta do companheiro Leonelli publicada no site do PSB (27.12.2021) ‘união do PSB, do PDT, do PCdoB, do PV, da Rede e se possível do PSOL’ e deixar de lado uma frente muito ampla de esquerda, pode ser a solução, pois ofereceria ao cidadão-eleitor uma opção mais clara e objetiva de votar para um novo Brasil político-institucional.


*Adriano Sandri
Cientista político e doutor em Relações Internacionais

Fonte: PSB nacional