Vacinação lenta e média móvel de mortes por covid-19 em ascensão

30/03/2021 (Atualizado em 30/03/2021 | 11:20)

 Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Com vacinação contra a Covid-19 lenta, a média móvel de mortes por coronavírus no Brasil nos últimos sete dias chegou a 2.655. É o maior número desde o início da pandemia pelo 4º dia consecutivo. O total de vidas perdidas para o coronavírus alcançou 313.866. Nas últimas 24 horas, foram registradas 1.660 mortes. Nesta segunda-feira (29), a soma estava em 312.206 óbitos. 

Ainda há 3.470 mortes em investigação por equipes de saúde. Isso porque há casos em que o diagnóstico sobre a causa só sai após o óbito do paciente. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de +34%, indicando tendência de alta nos óbitos pela doença. O cálculo é do consórcio da imprensa.

Vacinação segue lenta no Brasil

A única forma de conter a escalada de mortes por Covid-19 é imunizar a população. No Brasil, ela segue lenta. Balanço desta segunda aponta que 16.258.743 pessoas receberam a primeira dose, o que representa 7,68% dos brasileiros. A segunda dose foi aplicada em 4.819.324 pessoas (2,28% da população do país) em todos os estados e no Distrito Federal. No total, 21.078.067 doses foram aplicadas em todo o país.

Iniciativa privada pressiona para compra de vacina

Enquanto o volume de imunizantes é escasso, alguns empresários articulam um movimento para alterar a lei que obriga a doação de imunizantes adquiridos pela iniciativa privada ao Sistema Único de Saúde (SUS). Se essa exigência for eliminada, os executivos alegam que terão condições de comprar 10 milhões de doses. A articulação acontece em meio a uma investigação sobre uma suposta importação sigilosa da vacina da Pfizer por empresas de Minas Gerais. 

Essa legislação foi considerada inconstitucional pela Justiça Federal do Distrito Federal no dia 25 de março. O juiz Rolando Spanholo, substituto da 21ª vara federal de Brasília, acatou o argumento do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo de que a exigência da doação é inconstitucional, pois viola o direito fundamental à saúde. A decisão não é definitiva e ainda cabe recurso. Mas, se prosperar, será mais um obstáculo para o poder público na compra de vacinas, escassas e disputadíssimas internacionalmente.

Congresso resiste à ideia de vacinação fora do SUS

No Congresso, parlamentares resistem à ideia de conceder às empresas privadas autorização para comprar vacinas contra a Covid-19 e vacinar os funcionários sem ter que doar todo o lote ao SUS. Esse requisito foi proposto pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no projeto de lei que estabelecia a base legal para a compra de vacinas.

Além da doação integral ao SUS durante o período de vacinação dos grupos prioritários, a legislação determina que, uma vez superada essa fase, as entidades privadas deverão ainda assim repassar ao menos 50% dos imunizantes adquiridos para o SUS. A intenção dos parlamentares era a de dar as bases para que empresas e laboratórios possam contribuir com a vacinação e dar escala para o programa de imunização, mas sem mudar o caráter nacional e gratuito da imunização em massa. Aprovado no dia 25 de fevereiro no Senado e sancionado no último dia 10 pelo presidente Jair Bolsonaro, a legislação também autoriza que Estados e municípios adquiram vacinas. 

Guedes defende a compra vacinação por empresários

O ministro da Economia, Paulo Guedes, defende que os empresários já possam adquirir doses e imunizar funcionários. No dia 25 de março, depois de reunião com o setor empresarial, ele afirmou que o setor privado tem muita capacidade de impacto no processo e que poderia “dobrar” a quantidade de vacinas já contratada pelo governo.

“Estamos fazendo essa convocação a todo o setor privado que sigam esse exemplo. Com 100 empresários teremos 500 milhões de vacinas. Podemos dobrar os 500 milhões que o governo já conseguiu. Agora não é quantidade, é velocidade.”
Paulo Guedes

Vacinas podem ser ineficientes contra mutação

Além do aumento desenfreado no número de mortes, disputa de empresários por compra de vacinas, uma pesquisa realizada entre epidemiologistas, virologistas e especialistas em doenças infecciosas de 28 países aponta uma projeção nada animadora sobre a atual pandemia: em um ano ou até menos, a primeira geração de vacinas contra a Covid-19 já não será mais eficiente, exigindo esforços para a criação de novos imunizantes.

Segundo reportagem do site Bloomberg.com, os cientistas há muito enfatizam que um esforço global de vacinação é necessário para neutralizar de forma satisfatória a ameaça do coronavírus. Isso se deve às variações do vírus – algumas mais transmissíveis, mortais e menos suscetíveis às vacinas – que estão surgindo e se infiltrando.

A previsão sombria de um ano ou menos vem de dois terços dos entrevistados, de acordo com a People’s Vaccine Alliance, uma coalizão de organizações que inclui a Anistia Internacional, Oxfam e UNAIDS, que realizou a pesquisa. Quase um terço dos entrevistados indicou que o prazo era provavelmente de nove meses ou menos.

A baixa cobertura vacinal persistente em muitos países tornaria mais provável o aparecimento de mutações resistentes à vacina, disseram 88% dos entrevistados, que trabalham em instituições ilustres como Universidade Johns Hopkins, Yale, Imperial College, London School of Hygiene & Tropical Medicine e a Universidade de Edimburgo.

Entrega de 27 milhões de doses de vacina em abril

De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com o Instituto Butantan, o Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde receberá pelo menos 27 milhões de doses da CoronaVac e da vacina de Oxford. A previsão considera apenas o que pode ser entregue com matéria-prima que já foi importada, ou seja, a entrega dessas doses não depende da chegada de novos lotes do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA).

Fonte: Socialismo Criativo