Artigo: Nuvens de gafanhotos ameaçam lavouras no sul do Brasil

22/07/2020 (Atualizado em 22/07/2020 | 14:36)

Um novo exército de gafanhotos famintos partiu essa semana do Paraguai e acaba de invadir a Argentina. De acordo com o Servicio Nacional de Calidad y Sanidad Vegetal y de Semillas (SENAVE), órgão que delimita políticas de enfrentamento e acompanhamento de pragas naquele país, a nuvem se manteve por algum tempo estacionada em área próxima ao Parque Defensores do Chaco, mas dada as condições climáticas favoráveis migrou para o sudeste e, neste momento, os insetos estão na província de Formosa, na Argentina, a 750 km da fronteira com o Brasil. Autoridades fitossanitárias estão em alerta e o governo preparou um plano de ação para controlar o deslocamento dos insetos, que podem causar severos prejuízos em lavouras e pastagens.


O surgimento de mais uma nuvem de gafanhotos elevou o perigo para as lavouras no Rio Grande do Sul, que já era alto por conta da primeira nuvem. Com as baixas temperaturas das últimas semanas o risco de invasão do território estava praticamente descartado, mas o clima mudou e o calor atípico para esta época do ano, reacendeu essa possibilidade. Tem sido dada atenção máxima ao deslocamento dos insetos e todas as rotas de entrada estão mapeadas e aviões preparados para o uso de inseticidas, caso a praga chegue ao estado. Neste momento, de acordo com o Serviço Nacional de Saúde e Qualidade Agroalimentaria (SENASA), da Argentina, a primeira nuvem, com mais de 400 milhões de insetos, segue na província argentina de Entre Rios, cerca de 120 quilômetros de Barra do Quaraí, uma das menores distâncias desde as primeiras notificações.


A nuvem se movimentou 40 km para o sul, em linha reta e especialistas calculam que os insetos podem chegar nesta quarta (22) ao Uruguai. Formada por gafanhotos da espécie Schistocerca cancellata, nativa da américa do Sul, já causaram grandes prejuízos nas décadas de 1930, 40 e 60 e desde 2015 os argentinos vem relatando a formação de novas nuvens. São insetos que se alimentam de material verde, com a incrível capacidade de consumir lavouras inteiras ou gerar uma grande desfolha, diminuindo drasticamente a produtividade. Eles também causam danos a vegetação nativa. O deslocamento agregado está relacionado ao ritmo reprodutivo da espécie, que ao devorar uma área busca uma nova para se alimentar. E chegar aqui pode ser uma questão de tempo, a depender do vento. Conforme explicou a colega Daniela Buske, professora do Instituto de Física e Matemática da UFPel, em entrevista para o Jornal Nacional. “Se o vento for forte é possível sim que eles cheguem até o estado de acordo com a meteorologia que a gente tiver."


O chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, Ricardo Felicetti tem afirmado, em entrevistas, que as autoridades do Estado estão atentas para uma possível chegada da nuvem à região nos próximos dias. Mas a estratégia de combate aos gafanhotos faz acender um outro alerta. Bombardear a nuvem de gafanhotos com agrotóxico pode se mostrar pouco efetivo, além de causar sérios danos às pessoas e ao meio ambiente. Poderão ser aplicadas toneladas de agrotóxicos. Segundo o Chefe, se necessário, serão utilizadas até 400 aeronaves; o produto será aplicado por via aérea e terrestre, apenas em áreas onde não haja residências, rios ou animais, para evitar riscos para a população local e para não contaminar áreas preservadas; o uso de defensivos é a única forma de controlar essa nuvem.


A medida parece desesperada, pois além de não existir aplicação segura de agrotóxicos, o risco de mais contaminar do que funcionar é grande. Evidentemente, o residual da aplicação vai chegar ao solo e pode afetar uma enorme coleção de outras espécies e sim, alcançar outros elementos do ambiente e contaminar pessoas. Também, com a adição de mais veneno, mais amplificamos o desequilíbrio e pressão sobre o sistema e os processos ecológicos. E na tentativa de dar uma solução podemos estar aumentando o problema.


Professor Marcelo Dutra da Silva
Membro do PSB de Pelotas
Ecólogo – Doutor em Ciências
Instituto de Oceanografia - Universidade Federal do Rio Grande


Fonte: Comunicação PSB RS